quinta-feira, 12 de abril de 2007

Nunca é tarde para o amor.

Madalena adorava dançar, mas se esqueceu da última vez que foi a um baile. Depois que ficou viúva, houve um longo período de luto, como mandava a tradição, pois tinha sido criada daquela forma e vivia numa cidadezinha pequena em que o povo reparava em tudo.
Suas amigas, que já haviam viuvado há mais tempo, não perdiam tempo e estavam presentes em todos os bailes promovidos pelo clube de campo Água Viva. Mas Madalena, resignada, mantinha-se afastada destes eventos, comparecendo unicamente as missas dominicais.
Vez ou outra, recebia a visita delas, no chá da tarde, em que lhe relatavam com entusiasmo as suas peripécias no salão. Até mesmo algumas paqueras andavam acontecendo.E Madalena ouvia com interesse e até um pouquinho de inveja. Amou muito seu falecido marido e jamais ninguém o substituiria, mas sentia falta de alguma emoção na vida, não queria apenas esperar a morte chegar.
Com certa freqüência as visitas foram aumentando e com elas novidades chegavam aos seus ouvidos, aparentemente um novo morador da cidade passara a frequentar o baile e conforme suas amigas, um senhor extremamente bem apessoado e ouviram alguns boatos de que também era muito rico. Clarice, a mais nova entre elas, andou investigando discretamente e descobriu que o estranho era solteiro e que estava à procura de uma companheira. Todas estas novidades causaram um frisson entre as amigas, que discutiam efusivamente sobre qual tipo de mulher ele tinha em mente. Madalena pacientemente ouvia as conversas e pensava consigo o quanto suas amigas se comportavam como adolescentes. Bem, ao menos havia um pouco de agitação em sua casa, o que já era alguma coisa.
No Domingo seguinte, sentou-se em seu lugar de costume no banco da Igreja e de repente alguém se acomodou a seu lado, mas ela, muito discreta, não olhou na direção da pessoa.
Ao final da missa, quando todos já estavam se levantando para irem embora, a pessoa permaneceu sentada e quando Madalena olhou em sua direção e já ia pedir licença, notou que se tratava de um senhor e que este não tirava os olhos dela. Corando pediu que a deixasse passar, mas o desconhecido pegou em suas mãos e disse:
- Madalena, não está me reconhecendo? Mudei tanto assim?
- Me desculpe senhor, mas não o conheço e nem me recordo de tê-lo visto algum dia. – respondeu e olhou em volta para se certificar de que ninguém estava reparando na situação. – se me permitir passar, por favor, agradeceria muito.
Ele a deixou passar, mas a seguiu até a porta e segurou em seu braço firmemente, virou-a para si e com um sorriso encantador voltou a lhe falar:
- Acredito que eu tenha mudado muito mesmo, mas você continua a mesma. Estes mesmos olhos inconfundíveis.
Madalena, confusa e já um pouco assustada tentava se libertar das mãos do estranho, quando uma pequenina luz se acendeu em sua memória.
- Bem, você me lembra um pouco o Adolfo, que estudou comigo em São Paulo, mas isso já faz muito tempo.
- Pois você acertou em cheio, sou eu mesmo. Claro que com menos cabelo e com os que sobraram, todos grisalhos.
- Mas o que faz aqui, por estas bandas?
- Eu me mudei para cá, faz alguns meses.
- Mas você conhecia esta cidade?
- Na verdade não, mas um outro motivo me trouxe até aqui.
- É mesmo e qual foi?
- Você!
- Eu? – perguntou Madalena completamente confusa.
- Sim, pois se você não se lembra, eu era completamente apaixonado por você naquela época, mas você teve que voltar para cá e eu tive que seguir carreira na empresa de meu pai. Porém, nunca te esqueci e também não consegui me apaixonar por mais ninguém, então procurei informações sobre você e soube que havia se casado e estava feliz. Conformei-me por algum tempo, mas depois voltei a investigar e descobri que seu marido faleceu, aguardei pacientemente seu sofrimento e o tempo de luto, para agora poder me aproximar de você e finalmente pedi-la em casamento.

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