terça-feira, 25 de setembro de 2007

Eu vou...

Se navegar é preciso, então quero me juntar aos loucos desbravadores e assim partir em busca do desconhecido.
Eu vou...
Vejo a minha frente, tantos caminhos, tantas possibilidades, tantas escolhas. Quero ir e deixar o medo para trás.
Eu vou...
Minhas pernas me levarão.
Olho para o mundo, da janela do quarto, posso sentir mais do que ver, as coisas acontecendo incansavelmente e ininterruptamente. O mundo não pra, não espera por ninguém e nem faz concessões.
Então, eu vou...
Deixo minhas velhas roupas, meus antigos sapatos, meus discos gastos de tanto tocar. Deixo minha pequena e confortável cama, minha poltrona preferida, com seu tecido gasto e desbotado, toda minha zona de conforto.
Deixo minhas fotos, meus filmes e minhas poucas coisas de valor. Tranco a porta e levo comigo apenas o que necessito, só o essencial.
Jogo as chaves no lixo, não voltarei mais e mais nada me pertence.
Eu vou...
Vou de coração e alma livres.
Minhas pernas me levarão...

Minha Fortaleza...

Conforme seguia em passos indecisos a caminho do portão de saída, sentia que as pedras que sustentavam o chão, iam aos poucos ruindo. Pareciam areias movediças, que afundavam com meu peso. Senti um enorme pavor de cair em um buraco desconhecido, profundo e totalmente escuro. Apressei meus passos, pois as pedras logo atrás de mim iam desaparecendo e tinha que correr para evitar minha própria ruína. O portão de saída, que antes me parecia tão próximo e acessível, de repente tornou-se inalcançável. Corri desesperadamente em sua direção, mas como num pesadelo, não conseguia chegar até ele. Naquele momento, meu cansaço era tanto que tive vontade de sucumbir e me deixar sugar para baixo, juntamente com as pedras que caiam rapidamente. No entanto, algo dentro de mim gritava a plenos pulmões que eu reagisse e me esforçasse para seguir em frente.
E assim, superando meus limites, busquei uma força e uma determinação que jamais achei que possuía, corri como louca em direção ao portão e consegui chegar. Porém, quando minhas mãos tocaram a maçaneta e olhei para trás, para aquela antiga fortaleza tão conhecida e em que vivi anos a fio, e fui assaltada por uma profunda tristeza em abandonar aquele lugar, hesitei em abrir o portão por alguns minutos, mas vendo que tudo ia por água abaixo, tomei a decisão de enfrentar o desconhecido. Respirei fundo e com o coração em pedaços abri o portão e com os olhos fechados me atirei para fora. Quando senti o chão duro sob minhas costas, abri lentamente os olhos e vi minha fortaleza se desfazendo por completo, como se nunca houvesse, de fato, existido.
Armei-me de toda minha coragem para levantar, virei para frente e vislumbrei um imenso vale, com diversas trilhas diferentes e completamente desconhecidas para mim. Senti medo de me mover, mas sabia que era preciso. Fechei novamente os olhos e deixei que minha intuição guiasse meus passos, seguindo em qualquer direção. Assim continuei por algum tempo até ter a coragem de abrir os olhos e ver o que havia adiante. Para minha surpresa, a minha frente estendia-se um caminho ladeado por lindas flores coloridas e perfumadas. Pude sentir uma agradável brisa e meu coração se confortou, pois tive a sensação de que dali para frente, mesmo sem minha fortaleza, eu estaria segura.