quarta-feira, 28 de maio de 2008

Afeto

Triste fim levou aquele sentimento. Acabou perdido entre muitas cartas de amor e de reconciliação. Deixou-se virar apenas uma palavra, que dita assim, sem emoção, não carrega consigo nenhum sentido.
Mas é certo dizer que lutou. Lutou bravamente e com persistência, talvez por tempo demais, mas ainda assim, lutou. Não achava que a batalha seria inglória, nem sequer perdida, só outra forma de levantar a bandeira branca e se render.
Mas a vida, que não é iludida, soube bem o que fazer. Mostrou em cenas, iguais a de um filme muito dramático, a real face daquele amor fadado ao fracasso.
Verdade seja dita: o amor caminha de mãos dadas com o sofrimento. Não se amou de verdade se nunca sofreu. Mesmo que o ser amado tenha negligenciado o sentimento ofertado. Amar não se cobra ingresso. É gratuito e também incontrolável.
Nunca houve regras para o amor. Ama-se simplesmente e incondicionalmente.
Contudo, e por tudo, chega um dado momento em que se escolhe. Depara-se com uma bifurcação. Direita ou esquerda? Não dá para seguir em frente. Não se caminha por sobre o muro, tampouco se senta e espera.
Quando esse momento se apresenta, não há como escapar. Ou morre-se de amor, ou deixa que o amor morra. Não existe nada pior. Inúmeras são as desculpas que inventamos para não prosseguir. Porém, navegar é preciso.
Segue-se em frente, depois de escolhido o fim fatal daquele amor. E, ainda assim, sente-se um enorme apego por todo o tempo vivido em comunhão. É difícil desligar-se e desprender-se de uma vida passada ao lado de alguém. É doloroso deixar para trás as palavras ditas, o conhecimento dos corpos, a identidade do “nós”.
É penoso tentar esquecer os sorrisos, as lágrimas, os trejeitos e tudo mais que compuseram a dupla. Talvez jamais serão esquecidos, somente camuflados e guardados em lugar seguro.
Contudo, a maior dificuldade é deixar o afeto. Mas é vital, pois, caso contrário, não virão os futuros amores. Não será possível um novo relacionamento sem se desvincular do passado. Uma paixão novinha em folha , precisa começar sem travas nem vestes antigas.
É preciso despir-se para vestir uma roupa nova. É preciso encontrar nesta roupa, o carinho e afeto que são só dela.

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