Firmino, um homem de estatura baixa, um pouco calvo e já lá pelos seus 70 anos, caminha em passos lentos até a banca de jornal.
- Bom Dia Mané - cumprimenta com um sorrizo, o jornaleiro.
- Bom Dia Seu Firmino - responde o rapaz, também sorrindo - E como vai a patroa?
- Vai se indo, sabe como é na nossa idade, temos altos e baixos, mas tá tudo em ordem - informa, pegando seu jornal e tirando os trocados do bolso para pagar.
- Até amanhã Mané - despede-se e atravessa a rua em direção a praça onde senta-se todos os dias para sua leitura.
A manchete desse dia é sobre uma catástrofe ocorrida em um país distante, causada pela grande quantidade de chuvas. Na página seguinte, o assunto é a corrupção dentro do plenário e mais abaixo, fala-se sobre um novo golpe aplicado pelos ladrões, de dentro das prisões.
Ele passa para o caderno de economia e se choca com a notícia de que o governo autorizou os laboratórios a reajustarem os preços de seus medicamentos. Desanimado com tanta notícia ruim, tenta a sessão de esportes, afinal tem que haver alguma coisa boa para se ler.
Constatando que seu time está entre os últimos do campeonato e correndo o risco de rebaixamento, desiste da leitura, amassa o jornal e o joga no lixo.
Volta caminhando para sua casa, de cabeça baixa pensando em todas as coisas tristes que acabou de ler. Lá chegando, abre a porta da sala e ouve o som do riso que lhe é tão familiar. Dirigi-se até a cozinha e vislumbra sua querida esposa sentada próxima a porta de acesso ao quintal, segurando uma boneca vestida com roupas extravagantes e logo a frente, sua neta de 8 anos que tenta pentear os cabelos embaraçados da boneca. Ambas riem gostosamente de alguma coisa dita não se sabe por qual delas.
Neste momento seu coração se alegra e lhe vem o pensamento: " O mundo na certa não é um lugar fácil de se viver, cheio de incertezas, inseguranças, lugares sombrios, preocupações e violência, mas contudo, e isso é o mais importante, ainda existe amor. E nesta casa ele é abundante, pois aqui temos vida, risos e esperança..."
segunda-feira, 19 de março de 2007
Cada um com seus problemas...
Entro no elevador e aperto o botão do andar, digo à todos:
- Bom Dia....
- Bom Dia - respondem alguns enquanto outros apenas acenam com a cabeça.
Logo atrás de mim, uma senhora aparentando uns 60 anos e com cara de poucos amigos, fala sem se dirigir a ninguém:
- Nunca engoli tanto sapo na minha vida....
Todos voltam os olhares para ela, meio surpresos, mas a única que arrisca um comentário sou eu:
- A vida é assim mesmo, as vezes temos que engolir uns sapinhos....
Porém, a senhora nem mesmo nota minha presença e continua seu monólogo:
- Quem eles pensam que sou? Acham que vão mandar na minha vida pra sempre? Deixa estar...
Neste momento houve uma troca de olhares entre os demais passageiros, umas risadinhas e algumas sobrancelhas levantadas. E a senhora impassível:
- Um dia vou embora, pego todas as minhas coisas e sumo por esse mundo, sem dar notícias. Aí eles vão sentir na pele...
Chego ao meu andar, saio do elevador e me despeço com um " Até logo" meio sem graça, a porta se fecha e sigo em direção à sala 115, onde passarei em consulta com um Grastro, pois ironicamente, preciso tratar das indigestões causadas pelos meus próprios sapos engolidos.
- Bom Dia....
- Bom Dia - respondem alguns enquanto outros apenas acenam com a cabeça.
Logo atrás de mim, uma senhora aparentando uns 60 anos e com cara de poucos amigos, fala sem se dirigir a ninguém:
- Nunca engoli tanto sapo na minha vida....
Todos voltam os olhares para ela, meio surpresos, mas a única que arrisca um comentário sou eu:
- A vida é assim mesmo, as vezes temos que engolir uns sapinhos....
Porém, a senhora nem mesmo nota minha presença e continua seu monólogo:
- Quem eles pensam que sou? Acham que vão mandar na minha vida pra sempre? Deixa estar...
Neste momento houve uma troca de olhares entre os demais passageiros, umas risadinhas e algumas sobrancelhas levantadas. E a senhora impassível:
- Um dia vou embora, pego todas as minhas coisas e sumo por esse mundo, sem dar notícias. Aí eles vão sentir na pele...
Chego ao meu andar, saio do elevador e me despeço com um " Até logo" meio sem graça, a porta se fecha e sigo em direção à sala 115, onde passarei em consulta com um Grastro, pois ironicamente, preciso tratar das indigestões causadas pelos meus próprios sapos engolidos.
O queijo e Eu...
Abro a minúscula geladeira, da minúscula cozinha de deu minúsculo apartamento. Olho para o solitário pedaço de queijo, que descansa desajeitadamente sobre um pequeno prato de sobremesa e penso que já é hora de joga-lo no lixo, pois ele está lá por tempo demais, tanto que foi tomado por uma camada branca de fungos. Mas de alguma forma não consigo imaginar me desfazendo dele, não sei mas ele me lembra a mim mesma, que de tanto esperar alguma coisa, fiquei cheia de fungos brancos... Eles se apoderaram de mim e me revelaram a força devastadora do tempo, tão cruel e irreversível.
Fico tão hipnotizada com a imagem daquele queijo que me mantenho horas, com a porta da geladeira aberta, contemplando a ação da inércia. Que coisa bela e forte é a falta de movimento, quando todas as outras coisas do mundo se aproveitam oportunamente desta situação. Pois apesar do queijo estar inerte, os fungos estão se movimentando e seguindo adiante em suas tarefas diárias.
Bem, sinto que é hora de quebrar o encanto e fechar a porta da geladeira, sem é claro, jogar o meu querido queijo na lata do lixo.
Vou para meu quarto e me deito em minha cama desarrumada, com os pensamentos voltados para o inevitável prazo de validade de todos nós, seres humanos e laticínios...
Fico tão hipnotizada com a imagem daquele queijo que me mantenho horas, com a porta da geladeira aberta, contemplando a ação da inércia. Que coisa bela e forte é a falta de movimento, quando todas as outras coisas do mundo se aproveitam oportunamente desta situação. Pois apesar do queijo estar inerte, os fungos estão se movimentando e seguindo adiante em suas tarefas diárias.
Bem, sinto que é hora de quebrar o encanto e fechar a porta da geladeira, sem é claro, jogar o meu querido queijo na lata do lixo.
Vou para meu quarto e me deito em minha cama desarrumada, com os pensamentos voltados para o inevitável prazo de validade de todos nós, seres humanos e laticínios...
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