quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Partida.

“Certeza é o chão de um imóvel. Prefiro as pernas que me movimentam!”

(Nando Reis – A letra A)


Ela olhou mais uma vez para a porta aberta do ônibus de viagem, que recebia os passageiros para a partida. Sabia que era a última para embarcar, os demais viajantes aguardavam impacientes, mas ela não conseguia se mover, seus pés não saíam do lugar.

A grande mala, com todas as suas roupas, já estava depositada no bagageiro do grande ônibus, tinha nas mãos apenas uma pequena bolsa com seus documentos e algum dinheiro. Segurava as alças daquela bolsa, com tamanha força, que mais parecia uma ancora a lhe fixar no local.

O motorista, que se posicionava atrás do volante, percebeu a hesitação da moça. Parada ali parecia-lhe tão frágil, assustada e triste, que compadeceu-se dela e descendo do ônibus, foi falar-lhe:

- Está tudo bem moça? – dirigiu a ela um sorriso de simpatia.

- Eu...eu...não sei. – respondeu indecisa – Acho que estou com medo de partir. Tenho medo do que virá.

O velho e experiente motorista, que já vivera o bastante para conhecer os sentimentos humanos, arriscou um conselho:

- Sabe moça, aprendi com a própria vida que nenhuma dor é tão grande, que não possa ser superada, nenhum problema é tão grave, que não tenha solução, não existem certezas na vida, a não ser a morte, mas não há neste mundo estrada alguma, que não possa trazê-la de volta.

Assim, com um aceno de cabeça, ele voltou ao seu posto e aguardou.

Ela olhou para ele, com um sorriso tímido e embarcou no ônibus. Sentou-se em sua poltrona, fechou os olhos no exato momento em que o veículo começou a se movimentar, relaxou o corpo e pensou no que o velho e sábio senhor lhe dissera.

Após certa distância percorrida, soltou um leve suspiro, riu para si mesma e decidiu entregar-se ao estimulante sentimento de recomeço.

Um comentário:

parla marieta disse...

Helooou. Você é quem eu tô pensando?
Prazer em vê-la